quarta-feira, 8 de maio de 2013

CAMINHO PRIMITIVO DE SANTIAGO- etapa 1

De Pola de Allande a Santiago de Compostela. Uma viagem há muito esperada de cerca de 250 km, a pé.

A ler:
ONFRAY, Michel. "Teoria da Viagem- uma poética da geografia". Quetzal textos breves. 2009.


1- DE POLA DE ALLANDE A BERDUCEDO:

O dia

A viagem começa no preciso momento em que se fecha a porta de casa e o pensamento já voa em direcção    ao destino, sendo que o caminho, ainda tem de ser percorrido, o objectivo alcançado.
Esta é uma viagem diferente, porque envolve um caminho mais longo... um tempo diferente num espaço solitário.

Ainda neve nas serras de Somiedo

Caminhar pressupõe ter e ser um tempo diferente, um tempo menos moderno, mais "de espacio", como dizem os espanhóis. Caminhar significa recusar o ritmo alucinante da vida desumana dos dias que correm. Implica esquecer o que somos e quem somos sem deixarmos de ser aquele que queremos ser. É no caminhar que encontramos o "Graal" que temos esquecido constantemente e que pensamos buscar no sucesso, ou no dinheiro. Caminhar é apenas ser, despojado de tudo, desprendido do mundano. Caminhar assim é ser peregrino, não na busca de um qualquer deus ou santo, mas na busca de si mesmo. Peregrinar é esquecer... é apenas caminhar!

O céu e a terra em Pola de Allande

E então, tudo começa numa terriola das Astúrias, Pola de Allande, onde a serra, o céu e a neve vibram, fazendo-nos sentir como a paisagem é maior que os homens.

Margem do Nison com casas

É nesta terra e neste rio que a viagem verdadeiramente começa, onde as pernas ligeiras ainda não sentem as dores de horas a fio a caminhar e a mente duvida da concretização da jornada.

Orientação primeira

A partir daqui, estas serão os nossos guias, os GPS´s mais fiáveis.

O outro peregrino
Aos peregrinos modernos, a estes dois pelo menos, move-os o desafio de encontrar um lugar nas paisagens nunca vistas, um sentido de busca de sentido para o real e um eu mais puro. Assim se procura um certo tipo de felicidade!

Vale do Nison

Este é o magnífico vale do Nison, rio que haveremos de seguir até à sua nascente. É um começo extraordinariamente belo, que ficará gravado na memória como um dos trechos mais bonitos do Camino Primitivo.

A AS-14 e O Camino


O asfalto virá, mas esta etapa, se bem que sempre perto da estrada AS-14, será por caminhos de terra e trilhos estreitos, a maior parte muito agradáveis para calcorrear.

Rio e caminho

Uma dupla agradável, onde imperou o silêncio dos pássaros e da água a crepitar nas rochas.

Um pouco de Primavera

No entanto, há neve nas serras de Somiedo. Lá em Somiedo há um Parque a visitar, segundo o meu amigo Mariano amante de pássaros e de coisas simples...

O Nison

Com certeza a foto não mostra a beleza da paisagem... não apenas visual, mas a intensidade dos odores e dos sons e do vento frio a absorver-nos.

A ascensão
 Começa a primeira pequena dificuldade. Outras se seguirão. No entanto, as pernas sentem com o olhar e trepam sem cansaço.

As pontes

Local com 3 pontes sobre um rio cantarolante, fazendo lembrar as paisagens do Shire de Tolkien.

Ainda o bosque

Estamos a deixar o vale verdejante. Haverá uma fonte com água fresca e depois...

A grande subida

Para chegar ao alto, há que fazer a primeira grande tirada de esforço, por paisagem de alta montanha, pirináica, agora com vegetação mais escassa e rasteira, embora alguns Pinus nigra aguentem as agruras das altitudes.

Puerto del Palo
Acabáramos de subir dos 530m aos 1146, em pouco mais de 8km, sendo que os últimos 1000 metros, foram difíceis. 

Um abrigo imundo
Das poucas coisas que neste caminho não faz sentido: um abrigo nojento (no interior) que será melhor nem mostrar.

Descida perigosa
Atenção a esta descida. Pode ser fatal uma lesão ou uma queda!

AS-14
Sempre a estrada ao lado.

Curiosidade

Montefurado
Diz-se que esta aldeia tem apenas um habitante. Curioso homem, pois que foi o único ser humano que cumprimentámos, mas de quem não obtivemos resposta.

Saída de Montefurado
Os peregrinos abandonam uma terra silenciosa e fria. A paisagem é grandiosa, o caminho estreito e em altitude. 

Caminho rude

Caminho para O Lago
Pequena subida para a aldeia de O Lago. Haveríamos de ver 2 pessoas que se esconderam dentro de casa. De bares ou restaurantes, nada!


Estrada para Berducedo

Paisagem perto de Berducedo

Chegada a Berducedo

Igreja de Berducedo
Localidade pequena, cujo sustento é, sem dúvida, a agricultura e o gado bovino. A partir daqui, o cheiro será sempre  intenso a estrume de vaca.
O albergue da Xunta estava completo. Tivemos de optar pelo albergue particular, onde fomos bem recebidos. Falhámos o restaurante "La culpa fue de Maria", por ter ficado para trás e por ser caro. Haveríamos de ter café e leite com chocolate para o pequeno almoço.

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